Não vá embora

Ela estava sentada em uma mesa para dois, no fundo do restaurante. Normalmente, Luiz nunca faria o que fez, se aproximar da mesa de uma mulher que almoçava sozinha em um restaurante. Mas essa era uma situação especial, ela era o amor de sua vida.
Até aquele momento, Luiz nunca acreditou na “pessoa certa”, mas bastou olhar para ela e se sentir estúpido por ter duvidado. Ele sentou de frente para ela.- Está sozinha? – perguntou. Ela olhou para o fundo dos olhos de Luiz e começou a chorar desesperadamente.

O restaurante inteiro encarava a mesa. Ele tentava acalmá-la.
- Calma, calma… o que aconteceu?
- Eu não aguento mais, Luiz Otávio! ela respondeu, acertando não só o seu nome mas também o segundo nome do qual Luiz não gostava muito.
- Como assim? Como você sabe que meu nome é Luiz?
- Luiz não! Luiz Otávio, seu animal! – respondeu por entre soluços do seu choro que, finalmente, se acalmava.
- Tá, Luiz Otávio, mas como você sabe disso?
- Eu quero o divórcio! – disse ela.
- Você é doida!?! Eu acabei de sentar aqui, nem te conheço…
- Claro que não me conhece, nunca se deu ao trabalho. Anos de casamento e você não me conhece!?! – finalizou, saindo do restaurante.
Luiz teve que pagar a conta da “esposa”, ninguém acreditou nele quando disse que nunca tinha visto ela antes. Enquanto assinava o recibo do cartão, se convenceu de se tratar de algum tipo de golpe. Como não pagar a conta do restaurante. Apesar disso, sentia um nó na garganta, como se tivesse perdido alguém importante.
Quando chegou em casa, viu pela primeira vez a foto preto e branco, dele e dela, abraçados em uma praia. O susto inicial foi seguido de vários. A cada cômodo do apartamento, encontrava pequenas provas da vida com ela. Duas escovas de dente no banheiro, duas toalhas, sem contar em um incontável número de frascos, potes e pomadas de tratamentos para a beleza, que apenas uma mulher conseguiria acumular. Ficou sentado na poltrona da sala, esperando que ela entrasse pela porta a qualquer momento. Quando o sol raiou, o seu nó na garganta se transformou na agonia do desespero.
Não conseguiu sair de casa nos primeiros dias. A saudade do amor que ele nunca viveu o corroía por dentro. Na semana seguinte, o advogado dela entregou a Luiz os papéis do divórcio. Luiz exigiu, pediu, suplicou para que o advogado contasse onde o amor da sua vida estava. O advogado, irredutível, disse que sua cliente não queria mais nenhum tipo de contato com o ex-marido.
Luiz estava apoiado na mesa da cozinha, como se apenas sustentar o peso de seu corpo fosse um esforço tremendo. Os papéis do divórcio espalhados pela mesa. Luiz pegou uma página logo em sua frente, e por entre as lágrimas, começou a ler. Luiz, enfim, descobriu qual era o nome dela.

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